No ano de 1968 tornei-me leitora. Recordo a emoção, na escola, quando percebi que era fácil juntar letra a letra, palavra a palavra... e essa emoção repetia-se em casa, onde os sucessos escolares eram, com orgulho contido, festejados por minha mãe. Em voz alta, li pela primeira vez para ela e para o meu irmão. "A Tina já sabe ler!" - dizia a minha mãe, fazendo-nos sentir quanto isso era importante.
Primeiro, foram os livros escolares, mas rapidamente as aventuras passaram a entrar em casa quando, quinzenalmente, a biblioteca itinerante da Gulbenkian trazia novidades. Naquela biblioteca com rodas havia um mundo de histórias organizadas por temas e por idades. À medida que ia crescendo, havia novas prateleiras a explorar para escolher os três livros que me acompanhariam durante quinze dias. Quando terminava a sua leitura, pouco faltava para a sua renovação. E eu aguardava ansiosamente. Quase sempre, estas eram leituras solitárias.
Mas havia, em casa, outras partilhadas. Recordo com muito carinho as que fazia com o meu avô, com quem lia o jornal
"Amigo do Povo": as crónicas "Ao calor da fogueira", no inverno;
"À sombra do castanheiro", no verão. Era como se os diálogos entre os protagonistas Carlos e o tio Ambrósio se multiplicassem, dando origem a conversas em família, quando ainda não havia televisão para nos distrair. Nesse tempo, a leitura estava sempre em casa, sem sabermos, criando afetos e cumplicidades.
Hoje, gosto muito de viajar, “ser outra, constantemente”… Gosto de sair por aí, conhecendo o meu país e os dos outros, mas as grandes viagens, faço-as através dos livros, porque, também eu, tal como o poeta: “Na minha juventude antes de ter saído / da casa dos meus pais disposto a viajar / eu conhecia já o rebentar do mar / das páginas dos livros que já tinha lido.” (Ruy Belo).
O amor pelos livros e pela leitura foi crescendo. Tornei-me uma leitora.
Através da leitura feita de jornais e revistas ou de livros para todas as idades, ouço o pensamento de outros e assisto à minha transformação, sempre para melhor. Porque sei que os livros têm esse poder, o de mudar as pessoas. Segundo Mário Quintana: “Os livros não mudam o mundo. Quem muda o mundo são as pessoas. Livros só mudam as pessoas”. Eu acredito nesse poder dos livros. Por isso, leio e escrevo sempre, em qualquer lugar!
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Sobre o meu projeto
Escrevo…
“… porque acredito que a arte nos faz mais felizes e eu quero continuar a ser feliz na companhia das palavras.
“… porque gosto de brincar com elas, deixando que fujam, correndo, ou que descansem simplesmente, esperando por momentos de inspiração.
“… porque quero e (ainda) acredito que posso contribuir para um mundo melhor, onde o sonho seja realidade.
Aqui entre nós, permitam-me que vos conte ainda, como se fosse um segredo:
“ESCREVO porque sonho acordada…
...e eu gosto de sonhar!”
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