Nós, leitores: eu e o meu irmão

Em tempos, éramos assim, eu e o meu irmão.

É o registo que tenho de uma infância distante, carregada de memórias felizes.

O momento de pousar para a foto, impunha solenidade.

E nós os dois, unidos, assumimos o papel.

Naquele momento e sempre que era preciso.

Ele era mais velho, os dois anos que nos separam faziam toda a diferença.

Aos seis anos aprendeu a ler.

E eu, pequenina acompanhava a alegria da nossa mãe que, orgulhosamente, reconhecia a sua inteligência e os progressos que ele ia fazendo na escola.

Eu olhava para o meu irmão que já sabia ler e admirava-o por isso.

Eu queria ser como ele: saber ler e ser uma boa aluna.

O tempo foi passando entre brincadeiras e companheirismo e a minha hora chegou: fui para a escola e também aprendi a ler.

Era agora possível alcançar o meu grande objetivo: ler os livros do meu irmão.

Ele criou a sua própria biblioteca e eu era a leitora que, semanalmente, "requisitava" os seus livros e cujas leituras ele registava, metodicamente.

Recordo a entrada no quarto do meu irmão para preencher a ficha de requisição de mais um livro que ele me aconselhava como leitor mais experiente.

Li tudo o que por lá havia na pequena estante, mas que, para mim, estava carregada de narrativas fantásticas: eram livros de aventuras, histórias de índios e de cowboys e, mais tarde, foram também outras leituras e outras descobertas.

E assim, fomos alimentando cumplicidades que perduram.

Hoje, partilhamos a vida, mas também as leituras.

Procuramos sempre, oferecer um ao outro aquele livro que sabemos que vai agradar.

Continuamos, orgulhosamente, a ser dois irmãos unidos também pelos livros.